terça-feira, 27 de maio de 2014

O texto mais idiota do mundo


Eu quero cortar o cabelo estilo Joãozinho ou pintar ele todo de rosa e marcar pedacinhos de mim mesma no meu corpo: ganhar cicatrizes que me lembrem noites em que eu me senti viva e eternizar inspiração com tinta na minha pele. Quero me olhar no espelho e ver uma expressão de mim. Quero nunca mais ouvir a frase "isso não tem nada a ver com você!". Quero pôr pra fora todos os desejos que eu já guardei dentro de mim junto com o álcool vomitado depois de uma noite insana, borrada, onde eu dancei até que as solas dos meus pés ficassem dormentes e eu estivesse finalmente flutuando. Eu quero correr e gritar e viver e ocupar espaço demais e incomodar outras pessoas com a minha própria felicidade. Eu também quero ler poesia e filosofia e o último best-seller e a nova modinha adolescente. E eu quero dançar ao som de Ivete, Arctic Monkeys e Lady Gaga. Quero gargalhar tanto que as minhas bochechas doam e eu sinta que não tem oxigênio o suficiente nos meus pulmões. Quero pegar um ônibus pra bem longe e sentar sozinha na janela, olhando a estrada e cantarolando músicas lentas. E também quero percorrer o país num conversível com as minhas amigas, cantando música pop até minhas costelas vibrarem. Quero sentir raiva e frustração e destruir alguma coisa só porque minhas mãos tremem pelo impacto, pela sensação de algo de quebrando entre meus dedos. E eu quero chorar até que minha garganta fique com gosto de bile e eu acorde com uma sensação amarga na boca. Quero poder ter sessões ininterruptas de Netflix e pizza e baladas e álcool com as mesmas pessoas. Quero ler sozinha e viajar sozinha e pensar sozinha e ir ao cinema sozinha. E também quero me cercar de gente viva, gente com quem eu consiga discutir política e cultura pop com a mesma facilidade. Quero conhecer mil pontos de vista e compartilhar minhas próprias filosofias e conhecer também as suas, e me sentir tão em casa de moletom e coque bagunçado quanto cheia de glitter na cara e de minissaia. Quero nunca mais hesitar antes de falar exatamente o que eu penso e nunca mais odiar a mim mesma calada, no meio de um grande grupo de pessoas. Quero nunca mais sentir medo ou impotência ou insegurança ao redor de gente que deveria me apoiar. Quero ficar maravilhada e chocada e deprimida; quero sentir todos os sabores de todos os sentimentos, todos os gostos de todas as bocas e todos os suores e perfumes e dissabores alheios. Quero ser honesta comigo mesma e com todos os outros. Quero ir embora dessa lugar onde todo mundo acha que me conhece. Quero flutuar no mar num beijo numa droga qualquer. Quero alguém que fique pasmo comigo e que também me informe quando eu falar a maior idiotice da vida. Quero sentir uma liberdade tão grande que me faça divagar, sair do plano real e deixar minha mente viajar em estradas tão lindas que nunca visitei. Quero ser gentil e inteligente e linda e contagiante e carinhosa. Quero abraçar alguém tão forte tão forte quando for preciso. E quando não for também. Quero sentar num café em Paris e discutir filosofia. E quero me acabar numa festa em Los Angeles e rir de algo tão idiota tipo a bunda do macaco. Quero correr e ver mil pôr-do-sol e sentir o suor quente e nojento na minha pele e meus músculos pulsando debaixo da minha pele e correr mais ainda até que eu chegue até onde quero, que é lugar nenhum; ou todo lugar. Quero abrir os braços e sentir os raios do sol ou os flocos de neve ou os respingos do mar ou os sopros do vento atingindo cada centímetro quente pulsante vivo da minha pele. E quero me sentir maravilhosa de moletom e de vestido de festa. Quero saber conversar e fazer amigos e saber expressar tudo o que eu penso em timbres suaves depois altos e exaltados porque eu fico em êxtase colocando tudo pra fora, ao invés de só jogar meus mil quereres egoístas num blog na internet. 

Mas eu tenho 17 anos. Eu tenho uma carteira vazia, dependência legal e coisas que as pessoas esperam de mim. Eu tenho trabalhos escolares, vestibular e muita gente que acha que conhece qualquer coisa sobre mim. Eu tenho o choque que qualquer conhecido meu vai ter se chegar a ler esse texto. Eu tenho a sensação de que eu vou explodir em mil pedaços de sonhos e desejos nunca revelados. Então eu cuspo mil frases soltas num blog da internet. E amanhã volto a suspirar na frente do espelho, e prometo levianamente que, um dia, as coisas serão diferentes. Eu serei diferente. Eu serei eu.

Nenhum comentário:

Postar um comentário