sábado, 15 de junho de 2013

Numa festa ou tudo começa quando algo termina


Dói vê-la assim. Mesmo que seja ela. Mesmo que eu nem a veja. Mesmo que eu não esteja por lá. Eu sei de tudo. E, sabendo e me importando, dói. 

Eu deveria levar flores pra seu leito no hospital? Não, não é nada tão a vista assim. Não teve sangue, nem uma ferida aberta, cirurgia, ninguém levou ponto nenhum ou ficou desacordado. Dói mais. Dói menos. Não sei te dizer, menina, mas queria saber. Não teve nenhum acidente de carro, ninguém caindo da escada, nenhum choro da família reunida pra rezar pela menina enferma. Só as suas lágrimas. Mas elas foram quietinhas, ou altas demais, abafadas pelo chuveiro ou só pelo silêncio da casa vazia. Se os vizinhos acharam os berros estranhos, não disseram nada. Não queriam se meter. Ninguém queria. Claro que não. Talvez fosse melhor assim mesmo. Insira seu suspiro aqui.

Leia de fora. Não entenda uma palavra. Eu não entendo. Ela também não. Acho que ele menos ainda. Mas eu quero te fazer entender sem nomes, sem diretas e sem mágoas, menina. Por isso te explico, leitor, completamente alheio a essa história, que foi numa festa. Imagine como quiser a partir daí. Bafo de álcool, garrafas quebradas, uma música que ninguém queria ter dançado. Imagine mais público, mas chamativo, mas fácil de entender. Imagine carros de polícia, rostos assustados, pais preocupados. Imagine que esse texto é sobre isso. É mais fácil pra você. É mais fácil pra mim. É mais fácil pra ela. É mais fácil enviar flores ao leito de alguém no hospital do que levar doces a um coração partido. Porque você vê o curativo, vê o médico e vê toda a preocupação. Parece que vai ficar tudo bem. Mas você não vê os olhos vermelhos, a música triste e as fotos rasgadas. Só o sorriso e o silêncio. Mútua compreensão. Eu te entendo, garota. E te quero bem. Não esquece, viu?

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